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7 razões para encontrar o limiar: a fronteira entre o profano e o sagrado
Encontre o próprio limiar e enriqueça sua jornada pessoal. O limiar sagrado é um espaço para a contemplação, a espiritualidade e a transcendência.

Saudações,
Nossa primeira conversa aqui sobre esse olhar para o limiar foi sobre o adentrar a um ambiente. A permissão que o guardião precisa dar, ou o convite que ele precisa fazer, e o impacto que as boas-vindas exercem em uma pessoa. Ser convidado para a casa de alguém é uma honraria, porque o interior de uma residência é algo sagrado, e as pessoas limitam quem tem acesso a esse interior. Leia aqui! Pena que na banalidade do dia a dia não nos atentamos a esse limiar que separa o profano e o sagrado. É sobre isso que conversaremos hoje.
Boa leitura.
Escrevo esse texto domingo pela manhã, no interior de uma cidade do interior. Ouço o canto dos pássaros e sinto o nascer do sol me aquecer. Pés descalços, sinto o solo levar todas as energias negativas que porventura eu tenha carregado durante a semana. É um ambiente acolhedor, separado de tudo. Um cenário quase inexistente nos dias de hoje. Ao mesmo tempo que tem esse ar especial para mim, é um ambiente simples. Comum até. Mas o que faz desse lugar tão especial? O que o torna sagrado pra mim? Preciso apresentar alguém que entende mais do assunto do que eu.
Mircea Eliade, um pesquisador das religiões, dedicou grande parte de sua obra ao estudo das experiências religiosas e das dimensões sagradas da existência humana. Uma das ideias mais fascinantes que Eliade nos legou é a noção do "limiar sagrado" – o ponto de transição entre o profano e o sagrado, onde a comunicação entre o mundo terreno e o divino se torna possível. Adquira a obra aqui!
“O limiar que separa os dois espaços indica ao mesmo tempo a distância entre os dois modos de ser, profano e religioso. O limiar é ao mesmo tempo o limite, a baliza, a fronteira que distinguem e opõem dois mundos – e o lugar paradoxal onde esses dois mundos se comunicam, onde se pode efetuar a passagem do mundo profano para o mundo sagrado.”
Para entender essa ideia profundamente enraizada na experiência religiosa, podemos olhar para um exemplo muito tangível: uma igreja. Para os frequentadores, essa igreja não é apenas um edifício em uma rua; é um espaço distinto que transcende o mundano. A porta que se abre para o interior da igreja é mais do que um acesso físico; é uma separação de dois modos de ser distintos - o profano e o religioso.
Esse conceito de Eliade não se aplica apenas a igrejas; ele se estende às habitações humanas. O limiar de uma casa é considerado um espaço sagrado em muitas culturas, e inúmeros rituais acompanham a passagem por ele. Pode envolver reverências, toques devotados e até mesmo oferendas a divindades guardiãs. O limiar serve como uma barreira protetora contra adversários humanos e poderes demoníacos, e é o local onde os sacrifícios são oferecidos para apaziguar essas divindades. Eliade resgata, inclusive, que em algumas culturas antigas, como as da Babilônia, Egito e Israel, o limiar também era o local onde ocorriam julgamentos.
O limiar, a porta, é um símbolo poderoso dessa solução de continuidade no espaço. Ele representa a transição do profano para o sagrado e, portanto, tem uma grande importância religiosa. É mais do que uma mera passagem física; é um veículo de transcendência.
A ideia de que as igrejas, templos e casas podem servir como portais entre o mundo terreno e o divino é uma característica comum em muitas religiões. O templo é frequentemente concebido como uma "abertura" para o alto, um lugar onde os deuses podem descer à Terra e onde os fiéis podem simbolicamente ascender ao Céu. Nesse contexto, o ambiente sagrado representa uma ligação direta com o mundo dos deuses.
Eliade nos lembra que essa noção de limiar sagrado é uma parte fundamental da experiência religiosa. Ele nos convida a refletir sobre como reconhecemos e valorizamos esses momentos de transcendência em nossas próprias vidas. Embora possam não ser literalmente portas de igrejas, eles podem ser encontros com a natureza, momentos de contemplação ou experiências espirituais pessoais (isso explica porque esse lugar no interior de uma cidade do interior é sagrado pra mim).
O limiar sagrado é um conceito que nos ajuda a compreender como a religião e a espiritualidade permeiam nossa vida cotidiana. Eliade nos convida a prestar atenção aos momentos em que nos conectamos com o sagrado e a reconhecer a importância dessas fronteiras entre o profano e o divino em nossa jornada.
Aqui não estou querendo induzir você a seguir uma religião ou outra, mas entender que há momentos em que você precisa se conectar com algo sagrado. Pode ser uma caminhada na praia para colocar as ideias no lugar, pode ser como eu, sentado ao sol, em um domingo de reflexão. Pode ser no escuro do seu quarto, com os joelhos dobrados. Não importa. Para vencer a jornada, esse lado sagrado precisa ser respeitado. E aqui vão algumas razões para isso:
Renovação espiritual: A busca pelo sagrado nos ajuda a renovar nossa espiritualidade e encontrar um sentido mais profundo na vida. Através desses momentos de conexão com o divino, podemos encontrar respostas para perguntas existenciais e alcançar um estado de paz interior.
Equilíbrio mental e emocional: A vida moderna muitas vezes nos sobrecarrega com estresse e ansiedade. Buscar o sagrado pode ser uma forma eficaz de equilibrar nossa saúde mental e emocional. Momentos de reflexão e contemplação nos permitem encontrar calma e serenidade.
Compreensão da humanidade: Ao explorar o sagrado, ganhamos uma compreensão mais profunda da experiência humana. As diversas tradições religiosas e espirituais ao redor do mundo oferecem insights sobre as diferentes formas de abordar questões fundamentais da vida, como a moralidade, a morte e o propósito (aqui a religiosidade ensina tanto quanto a espiritualidade).
Conexão com a natureza: Assim como o interior de uma casa pode ser sagrado, a natureza também é frequentemente vista como um lugar de conexão espiritual. A apreciação da beleza natural e a contemplação do mundo natural podem nos conectar com algo maior do que nós mesmos.
Respeito pela diversidade: Ao reconhecer e valorizar a importância do sagrado, somos mais propensos a respeitar a diversidade de crenças e práticas espirituais em nossa sociedade. Isso promove a tolerância e a compreensão mútua (as religiões pregam o amor e o respeito, não sei em que momento da humanidade nos perdemos).
Senso de comunidade: Muitas práticas religiosas envolvem rituais e celebrações em comunidade. Isso fortalece os laços sociais e proporciona um senso de pertencimento a algo maior do que o indivíduo.
Inspiração e criatividade: Muitos artistas, escritores e pensadores encontram inspiração em experiências sagradas. Esses momentos podem desencadear insights criativos e contribuir para a produção de obras significativas (não que eu seja um artista, mas esse desligar do profano renova minhas energias).
Mesmo que você não siga uma religião específica, reconhecer o valor do sagrado e buscar esses momentos de conexão pode enriquecer sua vida de maneiras inesperadas. O limiar sagrado nos lembra que, em meio à agitação do mundo moderno, há um espaço para a contemplação, a espiritualidade e a transcendência. Encontre o próprio limiar e veja esse ambiente enriquecer sua jornada pessoal com momentos sagrados.
Que esses momentos sagrados iluminem seu caminho e o ajudem a encontrar paz, significado e inspiração em sua vida.
Fique com Deus.
Atenciosamente,
Prof. Dr. Reginaldo Osnildo
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