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Talvez você não saiba, mas a sua vida é regida pelo arquétipo do cosmos
E aí vem a questão: quem diz o que estrutura um cosmos, senão o próprio homem, senão a própria psique desse homem?

Saudações,
Esse título chamou a sua atenção, não é mesmo? Você precisa de organização; você precisa que as coisas estejam no lugar, mesmo que você seja um pouco bagunceiro, mas você não pode chegar em casa e a porta não estar mais onde é o lugar da porta. Isso é caótico. É sobre esse conflito de cosmos e caos que eu vou falar hoje.
Boa leitura.
Quando estava no mestrado, fui apresentado a muitos autores que eu desconhecia. Um deles é David Lapoujade. Esse autor tem uma obra incrível chamada As existências mínimas. Nessa obra, o autor traz um termo que eu não tinha visto em nenhum outro lugar: o termo é "cosmicidade".
“Há uma ‘cosmicidade’ do mundo das coisas, uma organização, diversos sistemas de ligações que asseguram sua estabilidade - ao contrário do mundo cambiante dos fenômenos cujas arquiteturas são evanescentes. Paradoxalmente, porém, essa permanência das coisas não lhes é inerente, ela vem dos psiquismos.”
O arquétipo é o software da psique.
Constantemente eu menciono essa citação. Inclusive, é a descrição da minha newsletter, mas não é minha. Quem disse isso foram Mark e Pearson em "O Herói e o Fora-da-lei".
"Tá, Reginaldo, mas por que você está dizendo que cosmicidade tem a ver com arquétipo do cosmos?"
Toda a expressão humana que culmina em narrativas míticas se dá pela tentativa de o homem vencer a morte. E quando a gente fala "toda", é literalmente "toda", ou você acha que o ser humano está tentando povoar marte só porque assusta o fato de qualquer pedra que venha do espaço com capacidade de destruir o planeta nos transforme em poeira cósmica?
Para o ser humano tem que ter uma alternativa, e nessa luta por construir significados e soluções, nós temos o céu, o inferno, purgatório, ou os vários infernos, dependendo da cultura.
E até para o inferno existir, é a partir de uma estrutura, uma cosmicidade. Não é qualquer um que vai para o inferno; são apenas aquelas pessoas que fizeram por merecer.
E aí vem a questão: quem diz o que estrutura um cosmos, senão o próprio homem, senão a própria psique desse homem?
Quem diz quem pode passar pela fronteira de um país, senão a própria organização, legislação, jurisdição desse país, a cosmicidade desse país que, como diz Lapoujade, tem a ver com os sistemas que asseguram essa estabilidade, sistema jurídico, político, educacional, o sistema cultural, e também aquilo que está, diferentemente do que é imposto, imbricado ao imaginário social desse cosmos, uma ligação que acontece entre psiques, entre as pessoas que imaginam esse cosmos, que dão vida a esse cosmos, uma miscelânea de comunidades e cosmos, uma cosmicidade.
Se eu perguntar para você como que você sabe que já pode atravessar na faixa de pedestres, se eu perguntar para você qual é o dia de descanso, se eu perguntar para você inúmeras coisas, você saberá a resposta. Só que ainda assim tem coisas que não é preciso perguntar, mas faz parte do seu dia a dia ao ponto de você simplesmente seguir por esse caminho por ele estar organizado.
Parece confuso, né? Vou trazer um exemplo prático.
Recentemente, eu fiz um check-up, e eu escolhi uma clínica que me permitia fazer o check-up em um único dia. Cheguei nesse dia às 7 da manhã, fui atendido e recebi um mapa e um crachá. O mapa tinha os horários, os prédios e os exames que eu faria. Fui orientado a seguir por linhas coloridas no chão em todas as vezes em que eu saía entre um exame e outro, e me foi dito o seguinte: se por acaso a porta estiver fechada, use o crachá.
Eu fui inserido dentro de uma logística interna da clínica como um objeto a percorrer os corredores para facilitar todo o processo de atendimento.
A clínica criou um cosmos próprio, uma organização própria que eu precisava seguir para que tudo ocorresse como tinha que ocorrer.
É claro que a gente não fica pensando nisso durante o dia a dia, mas você é lembrado que existia um cosmos no trânsito quando alguém mete o carro na sua frente sem dar seta. Você até se pergunta: - Não estão mais produzindo carros com setas?
Essa pessoa que não seguiu a cosmicidade instituída pela comunidade, o cosmos em que as pessoas como você vivem, produz o caos.
O caos assusta.
Tudo aquilo que desconhecemos é caos, tudo aquilo que foge da nossa organização pessoal, social, é caos, tudo aquilo que de certa forma não pertence à nossa comunidade, não pertence à nossa cosmicidade, é caos.
E esse arquétipo está tão impregnado em nosso inconsciente que não nos damos conta de que parte do nosso preconceito ou da nossa rejeição ao outro se dá ao fato de que o outro, quando se insere em nossa vida, está invadindo, de certa forma, o nosso cosmos.
Quando for ter uma atitude de repelir algo ou alguém, tente refletir sobre isso. Talvez agora você saiba que a sua vida é regida pelo arquétipo do cosmos.
Atenciosamente,
Prof. Dr. Reginaldo Osnildo
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